segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

EUA e a "Cultura da Morte": Documentário "Tiros em Columbine"

Tiros em Columbine – a égide do Medo

No dia 20 de abril de 1999, dois jovens estudantes entraram fortemente armados na biblioteca de uma escola pública na pequena Columbine – Littleton – Colorado, mataram doze colegas e um professor, suicidando-se em seguida. 
Este o mote do filme: tentar compreender os motivos de tanta violência gratuita, absurda e vastamente disseminada na sociedade estadunidense. Desnecessário enfatizar que não foram armas compradas legalmente, pois os jovens eram menores de idade e não tinham licenciamento, mesmo para a liberal legislação estadunidense. O fato é que os cidadãos da Nação mais belicosa do mundo têm motivos de sobra para viver sobressaltados, em permanente estado de temor e tremor. 
A seqüência de abertura tem um tom fortemente sarcástico: a montagem a partir de um outro filme propagandístico da Indústria Armamentista estadunidense apresenta um militar informando que a Associação Nacional do Rifle – hoje presidida por ninguém menos que Charlton Heston (Ben Hur, Os Dez Mandamentos...) – “produziu um filme que você considerará de grande interesse”. A seguir, ao som do “Battle Hymn of The Republic” (aquela que tem por refrão: “Glory, Glory, Alleluja, The truth is marching on!”) a narração do próprio Michael Moore informa de um dia normal nos Estados Unidos da América – o fazendeiro atua em sua lida, o entregador de leite cumpre o seu papel social, o presidente bombardeou mais um país cujo nome mal conseguimos pronunciar, a professora recebe sua turma para mais uma manhã de aulas e dois estudantes saem para jogar boliche às 6h da manhã. 
A seguir algo surpreendente: o North Country Bank, de Michigan, oferece um rifle gratuito a quem abrir uma conta. Moore abre a conta e sai da agência ostentando o rifle no ombro. 

Armas por toda a parte 

Moore apresenta uma sociedade aterrorizada, decidida a tomar sobre si a proteção de seus lares contra o inimigo. 
 Qual inimigo? E isso importa? Importante mesmo é que todos vivam com medo e assim a sociedade seja mantida sob controle, ainda que o preço para isto sejam desvios enlouquecidos. Em qualquer lugar do mundo, conseguir armas é algo exageradamente simples quando se dispõe de recursos e disposição para tanto, seja oficialmente, seja no mercado negro. Mas aprofundemos: seria o excesso de armas nas mãos de civis o motivo da violência existente nos EUA? 
Moore atravessa a fronteira norte e visita algumas cidades do Canadá. Encontra um país com o mesmo – senão ainda maior – número de armas de fogo nas mãos de civis e um índice de violência inacreditavelmente baixo. Entrevistando o Delegado de Polícia de uma cidade canadense de porte médio, percebe-se que ele encontra dificuldade em se recordar quando houve por ali o último homicídio. Após algum diálogo, constata que, para uma cidade aí de uns 500.000 habitantes, há uma média de 1 (UM) homicídio a cada 3 anos. 
 Outra coisa somente crível porque testemunhada, filmada e documentada é o fato de ninguém no Canadá trancar a porta de suas casas, vivem sem medo! Isto deixa o cineasta tão estarrecido que ele resolve visitar vários bairros de diferentes cidades e testa abrir as portas sem bater. Nenhuma está trancada. Em algumas encontra os moradores, que o recebem com cortesia e uma leve surpresa, mas ninguém no Canadá tranca a porta de suas casas. Enquanto é relativamente comum nos EUA que as pessoas tenham fechaduras e travas triplas ou quádruplas em suas portas fortificadas e muitos tenham pistolas e revólveres literalmente sob o travesseiro, no Canadá as portas ficam somente encostadas e as armas guardadas em armários para uso em caça... 
 Tudo aponta na direção de a violência não ter origem direta na quantidade de armas – idêntica nos dois países estudados no documentário – mas antes no viver sob a égide do medo. Quanto a mim sou radicalmente pacifista. 
É imoral fabricar mísseis mais caros que universidades, injustificável construir tanques de guerra mais onerosos que habitações populares, incrível que uma bala de revólver seja mais cara que um litro de leite. E tudo isto num mundo carente de universidades, moradias, leite... 
Não justifico a proliferação de armas, mas convenhamos, não é a ferramenta que causa problemas, mas o mau uso dela. O exemplo do Canadá é fantástico. Outro é o da Suíça, país em que todos os homens maiores de idade – e mulheres que sejam voluntárias – servem à Guarda Nacional do país por seis meses logo que atingem a maioridade e mantêm armas em casa; o país não aparece nas estatísticas de violência contra a pessoa. 

Contradições e Paradoxos Deliciosos 

Sempre gostei de contradições e paradoxos. E eles abundam no documentário. O gerente de uma fábrica de mísseis de longa distância em Colorado não consegue entender como é que jovens entram numa escola e saem matando pessoas a esmo. E não vê a menor conexão entre a utilidade do que fabrica – armas de destruição em massa – e a cultura da violência em seu país... 
O então presidente Bill Clinton aparece em rede nacional de TV justificando um bombardeio na Sérvia, considerando a destruição de escolas e hospitais “casualties of war” – acidentes de guerra – diante de um propósito maior. Uma hora depois a Casa Branca manifesta profundo pesar pelo massacre em Columbine e condena com veemência que se faça nos EUA o que os estadunidenses fazem alhures quase que diariamente...
Fonte: http://www.culturabrasil.org/tiros_columbine.htm 

 Vejam o Documentário:


domingo, 12 de agosto de 2012

Cabra Marcado Para Morrer (1984)


 



TÍTULO DO FILME: CABRA MARCADO PARA MORRER (Brasil, 1984) DIREÇÃO: Eduardo Coutinho
ELENCO: Elisabeth Teixeira e família, João Virgínio da Silva e os habitantes de Galiléia (Pernambuco). Narração de Ferreira Gullar, Tite Lemos e Eduardo Coutinho. 120 min., Globo Vídeo.
Gênero: Documentário, Ano de Lançamento: 1985, País de Origem: Brasil, Idioma do Áudio: Português do Brasil,

O filme “Cabra Marcado Para Morrer” de forma simples procura retratar a sociedade dos esquecidos, aqueles marginalizados dentro do sistema social. Abordando em seu contexto o movimento dos trabalhadores do campo. É interessante destacarmos que os personagens da produção são pessoas que verdadeiramente vivenciavam esta realidade em seu cotidiano.
Nada como um dia após outro com uma noite no meio e a graça de Deus pingando de hora em hora”.
O filme na minha concepção tem como objetivo retratar os diversos movimentos sociais que perpassam dentro de um espaço que destaca a terra como o alimento para milhões de trabalhadores no Brasil e no mundo. Apresentando-nos a arte silenciosa do movimento dos sem-terra, um discurso contextualizado e poematizado, de indivíduos que são “amantes” de sua terra, ou melhor, sendo eles o corpo onde habita a alma, a essência de sua terra.
O movimento MST (Movimento dos Sem-Terra) de forma totalmente contrária a mídia e a outros órgãos que de forma distorcida apresentam este movimento social, como um grupo composto por vândalos, etc. Na realidade quando estudamos o movimento MST, notamos que os membros do mesmo de forma organizada buscam difundir as suas ideologias.
 
A narrativa contextualizada do filme nos apresenta outro lado do movimento, onde fica visível a presença da poesia, ou seja, da arte gritante que mantém viva a centelha do movimento. A poesia é uma das formas mais precisas que os mesmos utilizam para engendrar a sua mensagem, seja ela discursada para um grupo maior de indivíduos, ou narrada como falas presente no cotidiano.
O título do filme procura valorizar a linguagem, o dialeto utilizado entre os indivíduos que compartilham do âmbito que destaca a terra, o trabalho agrícola como o meio para a sobrevivência. O Diretor Eduardo Coutinho se utiliza de uma linguagem simples para valorização e eternização de momentos, lugares e ações sociais que complexamente promoveram mudanças dentro do processo histórico.
 
É importante ressaltar que Eduardo Coutinho de forma complexa procura os mínimos detalhes para caracterização e ao mesmo tempo descaracterização do homem do campo: “um ser simples de pés nos chão, desdentados, com uma linguagem criada a partir de um dicionário formulado por eles mesmos; homens “simples”, porém dotados de muita sabedoria e experiência”.
A narrativa cinematográfica visa também ressalta a organização destes trabalhadores do campo que juntos realizam um movimento que de forma homogenia valorizam a sua terra.
Em suma, o filme “Cabra Marcado Para Morrer” nos traz uma linguagem simples, um discurso pregado por grupos sociais que são marginalizados, cabras que são marcados para morrer pelo sistema, porém indivíduos que bravamente lutam diariamente pela sobrevivência.
Por Dhiogo José Caetano Professor, historiador, escritor, poeta.
Cabra Marcado Para Morrer (1984). Direção e Roteiro: Eduardo Coutinho. Narração: Ferreira Gullar. Gênero: Documentário. Duração: 119 minutos.
Curiosidade: O filme originariamente era uma produção de 1964, com o mesmo diretor, e que foi interrompida pelo Golpe de 1964. Vinte anos depois foram reunidos os mesmos técnicos, locais e personagens reais para contar a sua história.
Fonte: http://cinemaeaminhapraia.com.br

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Batman – O Cavaleiro das Trevas: Ditadura do proletariado em Gotham City


Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge confirma mais uma vez como os blockbusters de Hollywood são indicadores precisos da situação ideológica da nossa sociedade
Por Slavoj Žižek. Traduzido por Rogério Bettoni, para o Blog da Boitempo
Adverte-se aos leitores que o texto contém detalhes da trama de Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Para ler a versão original, clique aqui.
Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge confirma mais uma vez como os blockbusters de Hollywood são indicadores precisos da situação ideológica da nossa sociedade. A narrativa (resumida) se dá da seguinte maneira. Oito anos depois dos eventos de Batman – O Cavaleiro das Trevas, capítulo anterior da saga Batman, a lei e a ordem prevalecem em Gotham City: sob os extraordinários poderes do Ato Dent, o comissário Gordon praticamente erradicou o crime violento e organizado. No entanto, ele se sente culpado pela cobertura dos crimes de Harvey Dent (Dent morreu ao tentar matar o filho de Gordon, salvo por Batman, que assumiu a culpa em nome da manutenção do mito de Dent, levando a uma demonização de Batman como vilão de Gotham) e planeja admitir a conspiração em um evento público de celebração a Dent, mas acaba concluindo que a cidade não está preparada para a verdade. Bruce Wayne, que não atua mais como Batman, vive isolado na própria mansão enquanto sua empresa desmorona depois de ter investido em um projeto de energia limpa criado para aproveitar a energia nuclear, mas encerrado quando ele descobriu que o núcleo poderia ser transformado em uma bomba. A lindíssima Miranda Tate, membra do conselho administrativo da Wayne Enterprises, convence Wayne a refazer a sociedade e continuar com seus trabalhos filantrópicos.
Aqui entra o (primeiro) vilão do filme: Bane, líder terrorista e antigo membro da Liga das Sombras, consegue a cópia do discurso de Gordon. Depois que as tramas financeiras de Bane quase levam a empresa de Wayne à falência, Wayne confia a Miranda a tarefa de controlar seus negócios, além de ter com ela um breve caso amoroso. (Nesse aspecto ela compete com a gata-ladra Selina Kyle, que rouba dos ricos para redistribuir a riqueza, mas acaba se juntando a Wayne e às forças da lei e da ordem.) Ao descobrir a movimentação de Bane, Wayne retorna como Batman e confronta Bane, que afirma ter assumido a Liga das Sombras após a morte de Ra’s Al Ghul. Depois de deixar Batman gravemente ferido em um combate corpo a corpo, Bane o coloca numa prisão de onde é praticamente impossível fugir. Seus companheiros de prisão contam para Wayne a história da única pessoa que conseguiu escapar: uma criança motivada pela necessidade e pela mera força de vontade. Enquanto o prisioneiro Wayne se recupera dos ferimentos e se prepara para ser Batman de novo, Bane consegue transformar Gotham City em uma cidade-Estado isolada. Primeiro ele atrai para o subsolo a maior parte dos policiais de Gotham e os prende lá; depois provoca explosões que destroem a maioria das pontes que conectavam Gotham City ao continente, anunciando que qualquer tentativa de deixar a cidade resultaria na detonação do núcleo de Wayne, do qual se apoderou e transformou em uma bomba.
Chegamos então ao momento crucial do filme: a tomada de poder por parte de Bane acontece junto com uma vasta ofensiva político-ideológica. Bane revela publicamente o acobertamento da morte de Dent e liberta os prisioneiros detidos pelo Ato Dent. Condenando os ricos e poderosos, ele promete devolver o poder ao povo, convocando as pessoas comuns a “tomarem a cidade de volta” – Bane revela-se como “o manifestante definitivo do Occupy Wall Street, convocando os 99% a se juntarem para derrubar as elites sociais”[1]. Segue-se então a ideia do filme de poder do povo: uma sequência mostra  uma série de julgamentos e execuções dos ricos, as ruas tomadas pelo crime e pela vilania… alguns meses depois, enquanto Gotham City continua sofrendo o terror popular, Wayne consegue fugir da prisão, retorna a Gotham como Batman e convoca os amigos para ajudá-lo a libertar a cidade e desarmar a bomba nuclear antes que ela exploda. Batman confronta e domina Bane, mas Miranda intervém e apunhala Batman – a benfeitora social revela-se como Talia al Ghul, filha de Ra’s: foi ela que escapou da prisão quando criança e foi Bane que a ajudou a fugir. Depois de comunicar seu plano de terminar a tarefa do pai de destruir Gotham, Talia foge. Na confusão que se segue, Gordon destrói o dispositivo que permitia a detonação remota da bomba enquanto Selina mata Bane, permitindo que Batman vá atrás de Talia. Ele tenta forçá-la a levar a bomba para a câmara de fusão onde pode ser estabilizada, mas Talia inunda a câmara. Talia morre quando seu caminhão bate, confiante de que a bomba não pode ser detida. Usando um helicóptero especial, Batman transporta a bomba para além dos limites da cidade, onde ela explode sobre o oceano e supostamente o mata.
Agora Batman é celebrado como um herói cujo sacrifício salvou Gotham City, enquanto Wayne é tido como morto nos motins. Após seus bens serem divididos, Alfred vê Bruce e Selina juntos em um café em Florença, enquanto Blake, jovem policial honesto que conhecia a identidade de Batman, herda a Batcaverna. Em suma, “Batman salva a situação, aparece incólume e continua com uma vida normal, enquanto outro o substitui no papel de defender o sistema”[2]. A primeira pista dos fundamentos ideológicos desse final é dada por Gordon, que, no (suposto) enterro de Wayne, lê as últimas linhas de Um conto de duas cidades, de Dickens: “Esta é, sem dúvida, a melhor coisa que faço e que jamais fiz; este é, sem dúvida, o melhor descanso que terei e que jamais tive”. Alguns críticos do filme interpretaram essa citação como um indício de que o filme “atinge o nível mais nobre da arte ocidental. O filme apela para o centro da tradição norte-americana – o ideal do nobre sacrifício pelo povo comum. Batman deve se humilhar para ser exaltado e renunciar à própria vida para encontrar uma nova. [...] Como máxima figura de Cristo, Batman sacrifica a si para salvar os outros”[3].
Dessa perspectiva, com efeito, Dickens está apenas a um passo de distância de Cristo no Calvário: “Pois aquele que quiser salvar a sua vida, vai perdê-la, mas o que perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. De fato, que aproveitará ao homem se ganhar o mundo inteiro mas arruinar a sua vida?” (Mt 16:25-26 da Bíblia de Jerusalém). O sacrifício de Batman como repetição da morte de Cristo? Essa ideia não seria comprometida pela última cena do filme (Wayne com Selina em um café em Florença)? O equivalente religioso desse final não seria a conhecida ideia blasfema de que Cristo realmente sobreviveu à crucificação e teve uma vida longa e pacífica (na Índia, ou talvez no Tibete, de acordo com algumas fontes)? A única maneira de remir essa cena final seria interpretá-la como um devaneio (alucinação) de Alfred, que se senta sozinho em um café em Florença. Outra característica dickensiana do filme é a queixa despolitizada sobre a lacuna entre ricos e pobres – no início do filme, Selina sussurra para Wayne enquanto eles dançam em um baile exclusivo da elite: “Está vindo uma tempestade, sr. Wayne. É melhor que estejam preparados. Pois quando ela chegar, todos se perguntarão como acharam que poderiam viver com tanto e deixar tão pouco para o resto”. Nolan, como todo bom liberal, está “preocupado” com essa disparidade e reconhece que essa preocupação impregnou o filme:
O que vejo do filme relacionado ao mundo real é a ideia de desonestidade. O filme inteiro trata da chegada do seu ponto crítico. [...] A ideia de justiça econômica perpassa o filme, e por duas razões. Primeiro, Bruce Wayne é um bilionário. Isso tem de ser levado em conta. [...] E segundo, há muitas coisas na vida, e a economia é uma delas, em que precisamos confiar em grande parte do que nos dizem, pois a maioria de nós se sente desprovida das ferramentas analíticas para saber o que está acontecendo. [...] Não acho que existe uma perspectiva de direita ou de esquerda no filme. Ele faz apenas uma avaliação honesta, ou uma exploração honesta, do mundo em que vivemos – de coisas que nos preocupam.[4]
Para todos os participantes, inclusive Batman, a moralidade é relativizada, torna-se uma questão de conveniência, algo determinado pelas circunstâncias (Divulgação)
Por mais que os espectadores saibam que Wayne é extremamente rico, eles tendem a se esquecer de onde vem a riqueza dele: fabricação de armas e especulação financeira, e é por isso que as jogadas de Bane na Bolsa de Valores podem destruir seu império – traficante de armas e especulador, esse é o verdadeiro segredo por trás da máscara do Batman. De que modo o filme lida com isso? Ressuscitando o tema arquetípico dickensiano do bom capitalista que se envolve no financiamento de orfanatos (Wayne) versus o mau e ganancioso capitalista (Stryver, como em Dickens). Nessa moralização dickensiana excessiva, a disparidade econômica é traduzida na “desonestidade” que deveria ser “honestamente” analisada, embora não tenhamos nenhum mapeamento cognitivo confiável, e uma abordagem “honesta” como essa nos leva a mais um paralelo com Dickens – é como afirmou Jonathan (corroteirista), irmão de Christopher Nolan, sem rodeios: “Para mim, Um conto de duas cidades foi o retrato mais angustiante de uma civilização reconhecível e descritível que se desintegrou completamente em pedaços. Com os terrores em Paris, na França daquela época, não é difícil imaginar que as coisas dariam tão errado assim”[5]. As cenas do vingativo levante populista no filme (uma multidão sedenta pelo sangue dos ricos que os ignoraram e exploraram) evocam a descrição de Dickens do Reino do Terror, tanto que, embora não tenha nada a ver com política, o filme segue o romance de Dickens ao retratar “honestamente” os revolucionários como fanáticos possuídos, e assim fornece a caricatura do que, na vida real, seriam revolucionários comprometidos ideologicamente no combate da injustiça estrutural. Hollywood conta o que o establishment quer que saibamos – que os revolucionários são criaturas brutais, sem nenhum respeito pela vida humana. Apesar da retórica emancipatória sobre a libertação, eles têm projetos sinistros por trás. Portanto, quaisquer que sejam as razões, elas precisam ser eliminadas.[6]
Tom Charity destacou corretamente “a defesa que o filme faz do establishment na forma de bilionários filantrópicos e uma polícia corrupta” – na sua desconfiança das pessoas que resolvem as coisas com as próprias mãos, o filme “demonstra tanto o desejo por justiça social quanto o medo do que realmente pode parecer nas mãos de uma multidão”[7]. Aqui, Karthick levanta uma questão bem clara sobre a imensa popularidade da figura do Coringa no filme anterior: qual o motivo de uma atitude tão hostil para com Bane quando o Coringa foi tratado com tanta mansidão no filme anterior? A resposta é simples e convincente:
O Coringa, que clama por anarquia na sua mais pura manifestação, enfatiza a hipocrisia da civilização burguesa como ela existe, mas é impossível traduzir suas visões em uma ação de massa. Bane, por outro lado, representa uma ameaça existencial ao sistema de opressão. [...] Sua força não é apenas a psique, mas também sua capacidade de comandar as pessoas e mobilizá-las rumo a um objetivo político. Ele representa a vanguarda, o representante organizado dos oprimidos que promove a luta política em nome deles para gerar mudanças sociais. Tamanha força, com o maior dos potenciais subversivos, não tem lugar dentro do sistema. Ela precisa ser eliminada.[8]
No entanto, ainda que Bane não tenha o fascínio do Coringa de Heath Ledger, há uma característica que o distingue desse último: o amor incondicional, a mesma fonte da sua dureza. Em uma cena curta mas comovente, vemos como, em um ato de amor no meio do sofrimento terrível, Bane salvou a garota Talia sem se importar com as consequências e pagando um preço terrível por isso (foi espancado quase até a morte por defendê-la). Karthick tem toda razão ao situar esse acontecimento dentro da longa tradição, de Cristo a Che Guevara, que exalta a violência como uma “obra do amor”, como nas famosas palavras do diário de Che Guevara: “Devo dizer, correndo o risco de parecer ridículo, que o verdadeiro revolucionário é guiado pelo forte sentimento do amor. É impossível pensar em um revolucionário autêntico sem essa qualidade”[9]. O que encontramos aqui nem é tanto a “cristificação de Che”, mas sim uma “cheização do próprio Cristo” – o Cristo cujas palavras “escandalosas” de Lucas (“se alguém vem a mim e não odeia seu próprio pai e mãe, mulher, filhos, irmãos, irmãs e até a própria vida, não pode ser meu discípulo” [Lc 14:26]) apontam exatamente na mesma direção que a famosa citação de Che: “É preciso ser duro, mas sem perder a ternura”. A afirmação de que “o verdadeiro revolucionário é guiado pelo forte sentimento do amor” deveria ser interpretada juntamente com a declaração muito mais “problemática” de Guevara sobre os revolucionários como “máquinas de matar”:
O ódio é um elemento da luta; o ódio impiedoso do inimigo que nos ergue acima e além das limitações naturais do homem e nos transforma em eficazes, violentas, seletivas e frias máquinas de matar. Assim devem ser nossos soldados; um povo sem ódio não derrota um inimigo brutal.
Ou, parafraseando Kant e Robespierre mais uma vez: o amor sem crueldade é impotente; a crueldade sem amor é cega, paixão efêmera que perde todo seu vigor. Guevara está parafraseando as declarações de Cristo sobre a unidade do amor e da espada – em ambos os casos, o paradoxo subjacente consiste nisto: o que torna o amor angelical, o que o eleva acima da mera sentimentalidade instável e patética, é essa mesma crueldade, o seu elo com a violência – é esse elo que eleva o amor acima e além das limitações naturais do homem e o transforma em pulsão incondicional. É por isso que, voltando a O Cavaleiro das Trevas Ressurge, o único amor autêntico no filme é o de Bane, o “amor do terrorista”, em nítido contraste a Batman.
Nesse mesmo viés, a figura de Ra’s, pai de Talia, merece um exame mais cuidadoso. Ra’s é uma mistura de características árabes e orientais, um agente do virtuoso terror lutando para contrabalancear a corrompida civilização ocidental. O personagem é interpretado por Liam Neeson, ator cuja persona na tela geralmente irradia uma nobre bondade e sabedoria (ele faz o papel de Zeus em Fúria de Titãs), e que também representa Qui-Gon Jinn em A Ameaça Fantasma, primeiro episódio da série Star Wars. Qui-Gon é um cavaleiro Jedi, mentor de Obi-Wan Kenobi, bem como o descobridor de Anakin Skywalker, acreditando que Anakin é O Escolhido que restituirá o equilíbrio do universo, ignorando os alertas de Yoda sobre a natureza instável de Anakin; no final de A Ameaça Fantasma, Qui-Gon é morto por Darth Maul[10].
Na trilogia Batman, Ra’s também é professor do jovem Wayne: em Batman Begins, ele encontra Wayne em uma prisão chinesa; apresentando-se como Henri Ducard, ele oferece um “caminho” para o garoto. Depois que Wayne é libertado, ele segue até a fortaleza da Liga das Sombras, onde Ra’s está esperando, embora se apresente como servo de outro homem chamado Ra’s Al Ghul. Depois de um longo e doloroso treinamento, Ra’s explica que Bruce deve fazer o que for preciso para combater o mal, embora revele que eles treinaram Bruce para liderar a Liga com o intuito de destruir Gotham City, que eles acreditam ter se tornado irremediavelmente corrupta. Portanto, Ra’s não é a simples encarnação do Mal: ele representa a combinação de virtude e terror, a disciplina igualitária que combate um império corrupto, e assim pertence ao fio condutor (na ficção recente) que vai de Paul Atreides em Duna até Leônidas em300 de Esparta. E é crucial que Wayne seja seu discípulo: Wayne foi formado como Batman por ele.
Duas críticas do senso-comum se apresentam aqui. A primeira é de que houveviolência e matanças monstruosas nas revoluções reais, desde o estalinismo ao Khmer Vermelho, por isso está claro que o filme não está apenas engajado na imaginação revolucionária. A segunda, oposta, é esta: o atual movimento Occupy Wall Street não foi violento, seu objetivo definitivamente não era um novo reino do terror; na medida em que se espera que a revolta de Bane extrapole a tendência imanente do movimento OWS, o filme, portanto, deturpa de maneira absurda seus objetivos e estratégias. Os atuais protestos antiglobalistas são o exato oposto do terror brutal de Bane: este representa a imagem espelhada do terror estatal, uma seita fundamentalista e homicida dominada e controlada pelo terror, e não a sua superação por meio da auto-organização popular… As duas críticas compartilham a rejeição da figura de Bane. A resposta a essas duas críticas é múltipla.
Primeiro, devemos esclarecer o atual escopo da violência – a melhor resposta para a afirmação de que a reação violenta da multidão à opressão é pior que a opressão original foi dada por Mark Twain no seu Um ianque na corte do rei Artur: “Houve dois ‘Reinos do Terror’, se bem nos lembramos; um forjado na incandescente paixão, outro no desumano sangue frio. [...] Mas todos os nossos temores, que os tenhamos pelo menor terror, o momentâneo, por assim dizer; pois o que é o terror da morte súbita pelo machado se comparado à morte em toda uma vida de fome, frio, insulto, crueldade e desilusão? O cemitério de qualquer cidade pode bem conter os caixões cheios desse breve terror, que todos aprendemos com afinco a temer e lamentar; mas a França inteira mal conteria os caixões cheios daquele outro terror, mais antigo e verdadeiro, o terror de amargura e atrocidade indizíveis, que nenhum de nós aprendeu a encarar em toda sua amplitude ou desprezo que merece”.
Depois, deveríamos desmistificar o problema da violência, rejeitando afirmações simplistas de que o comunismo do século XX agiu com uma violência homicida excessiva demais, e de que deveríamos tomar cuidado para não cair mais uma vez nessa armadilha. Com efeito, trata-se de uma terrível verdade – mas esse foco voltado diretamente para a violência obscurece uma questão basilar: o que houve de errado no projeto comunista do século XX como tal, qual foi o ponto fraco imanente desse projeto que impulsionou o comunismo a recorrer (não só) aos comunistas no poder para a violência irrestrita? Em outras palavras, não basta dizer que os comunistas “negligenciaram o problema da violência”: foi um aspecto sócio-político mais profundo que os impulsionou à violência. (O mesmo se aplica à ideia de que os comunistas “negligenciaram a democracia”: seu projeto geral de transformação social impôs sobre eles esse “negligenciar”.) Portanto, não é apenas o filme de Nolan que foi incapaz de imaginar o poder autêntico do povo – os próprios movimentos “reais” de emancipação radical também não o fizeram e continuam presos nas coordenadas da antiga sociedade, e, por essa razão, muitas vezes o efetivo “poder do povo” foi esse horror violento.
E, por último, mas não menos importante, é muito simples dizer que não há potencial violento no movimento OWS e similares – há sim uma violência em jogo em todo processo emancipatório autêntico: o problema com o filme é que ele traduziu essa violência de uma maneira errada em terror homicida. Qual é, então, a sublime violência em relação à qual até mesmo o mais brutal assassinato é um ato de fraqueza? Façamos uma digressão em Ensaio sobre a lucidez, de José Saramago, que conta a história dos estranhos eventos na capital sem nome de um país democrático não identificado. Quando a manhã do dia das eleições é arruinada por chuvas torrenciais, a quantidade de eleitores presentes é extremamente baixa, mas o tempo melhora no meio da tarde e a população segue em massa para as seções eleitorais. No entanto, o alívio do governo logo acaba quando a contagem de votos revela que 70% das cédulas na capital foram deixados em branco. Frustrado por esse aparente lapso civil, o governo dá aos cidadãos a chance de refazer o fato uma semana depois, em mais um dia de eleição. O resultado é pior: agora 83% dos votos foram brancos. Os dois principais partidos políticos – o governante partido da direita (p.d.d.) e seu principal adversário, o partido do meio (p.d.m.) – entram em pânico, enquanto o infeliz e marginalizado partido da esquerda (p.d.e.) apresenta uma análise afirmando que os votos brancos são, essencialmente, um voto por sua agenda progressiva. Sem saber como responder a um protesto benigno, mas certo de que existe uma conspiração antidemocrática, o governo rapidamente rotula o movimento de “terrorismo puro e duro” e declara estado de emergência, permitindo a suspensão de todas as garantias constitucionais e adotando uma série de medidas cada vez mais drásticas: os cidadãos são apanhados aleatoriamente e desaparecem em interrogatórios secretos, a polícia e a sede do governo saem da capital, proibindo a entrada e a saída da cidade e, por fim, fabricando seu próprio líder terrorista. A cidade toda continua funcionando quase normalmente, as pessoas se esquivam de todas as ofensivas do governo com uma harmonia inexplicável e com um verdadeiro nível gandhiano de resistência não violenta… isso, a abstenção dos eleitores, é um exemplo de “violência divina” verdadeiramente radical que desperta reações de pânico brutal nos detentores do poder.
Voltando a Nolan, a trilogia dos filmes do Batman, portanto, segue uma lógica imanente. Em Batman Begins, o herói continua dentro dos limites de uma ordem liberal: o sistema pode ser defendido com métodos moralmente aceitáveis. O Cavaleiro das Trevas é de fato uma nova versão de dois clássicos de faroeste de John Ford (Sangue de Heróis e O Homem Que Matou o Facínora) que retratam como, para civilizar o ocidente selvagem, é preciso “publicar a lenda” e ignorar a verdade – em suma, como nossa civilização tem de se fundamentar em uma Mentira: é preciso quebrar as regras para defender o sistema. Ou, dito de outra forma, em Batman Begins, o herói é simplesmente uma figura clássica do vigilante urbano que pune os criminosos naquilo que a polícia não pode; o problema é que a polícia, órgão responsável pela imposição das leis, relaciona-se de maneira ambígua à ajuda de Batman: enquanto admite sua eficácia, ela também considera Batman uma ameaça ao seu monopólio do poder e uma testemunha da sua ineficácia. No entanto, a transgressão de Batman aqui é puramente formal, consiste em agir em nome da lei sem a legitimação para fazê-lo: nos seus atos, ele nunca viola a lei. O Cavaleiro das Trevas muda essas coordenadas: o verdadeiro rival de Batman não é o Coringa, seu oponente, mas Harvey Dent, o “cavaleiro branco”, o novo e agressivo promotor público, um tipo de vigilante oficial cuja batalha fanática contra o crime o conduz ao assassinato de pessoas inocentes e o destrói. É como se Dent fosse a resposta à ordem legal da ameaça de Batman: contra a vigilante luta de Batman, o sistema gera seu próprio excesso ilegal, seu próprio vigilante, muito mais violento que Batman, violando diretamente a lei. Desse modo, há uma justiça poética no fato de que, quando Bruce planeja revelar ao público sua identidade como Batman, Dent o interrompe e se apresenta como Batman – ele é “mais Batman que o próprio Batman”, efetivando a tentação à qual Batman ainda era capaz de resistir. Então quando, no final do filme, Batman assume os crimes cometidos por Dent para salvar a reputação do herói popular que incorpora a esperança para o povo comum, seu ato modesto tem uma ponta de verdade: Batman, de certa forma, devolve o favor a Dent. Seu ato é um gesto de troca simbólica: primeiro Dent toma para si a identidade de Batman, e depois Wayne – o Batman verdadeiro – toma para si os crimes de Dent.
Por fim, O Cavaleiro das Trevas Ressurge ultrapassa ainda mais os limites: Bane não seria Dent levado ao extremo, à sua autonegação? Dent que chega à conclusão de que o sistema é injusto, de modo que, para combater a injustiça com eficácia, é preciso atacar diretamente o sistema e destruí-lo? E, como parte da mesma atitude, Dent que perde as últimas inibições e está pronto para usar toda sua brutalidade assassina para atingir esse objetivo? O advento dessa figura muda a constelação inteira: para todos os participantes, inclusive Batman, a moralidade é relativizada, torna-se uma questão de conveniência, algo determinado pelas circunstâncias: é uma guerra de classes aberta, tudo é permitido para defender o sistema quando estamos lidando não só com gângsteres malucos, mas com uma revolta popular.
Será, então, que isso é tudo? O filme deveria ser categoricamente rejeitado por quem se envolve em lutas emancipatórias radicais? As coisas são mais ambíguas, e é preciso interpretar o filme da maneira que se interpreta um poema político chinês: as ausências e as presenças surpreendentes também contam. Recordemos a antiga história francesa sobre uma esposa que reclama do melhor amigo do marido, dizendo que o amigo tem se insinuado sexualmente para ela: leva algum tempo para que o amigo surpreso entenda a mensagem – de uma maneira invertida, ela o está incitando a seduzi-la… É como o inconsciente freudiano que não conhece a negação: o que importa não é um juízo negativo sobre algo, mas o simples fato de que esse algo seja mencionado – em O Cavaleiro das Trevas Ressurge, o poder do povo ESTÁ AQUI, encenado como um Evento, em um passo fundamental dado a partir dos oponentes habituais de Batman (criminosos megacapitalistas, gângsteres e terroristas).
Temos aqui a primeira pista – a perspectiva de que o movimento OWS tome o poder e estabeleça a democracia do povo em Manhattan é nítida e completamente tão absurda e irreal que não podemos deixar de fazer a seguinte pergunta: POR QUE UM IMPORTANTE BLOCKBUSTER DE HOLLYWOOD SONHA COM ISSO, POR QUE EVOCA ESSE ESPECTRO? Por que sequer sonhar com o OWS culminando em uma violenta tomada de poder? A resposta óbvia (manchar o OWS com acusações de que ele guarda um potencial terrorista totalitário) não é o bastante para explicar a estranha atração exercida pela perspectiva do “poder do povo”. Não admira que o funcionamento apropriado desse poder continue branco, ausente: nenhum detalhe é dado sobre como funciona esse poder do povo, sobre o que as pessoas mobilizadas estão fazendo (é preciso lembrar que Bane diz que as pessoas podem fazer o que quiserem – ele não impõe sobre elas a sua própria ordem).
É por isso que a crítica externa do filme (“sua retratação do reino do OWS é uma caricatura ridícula”) não basta – a crítica tem de ser imanente, tem de situar dentro do próprio filme uma multiplicidade de sinais que aponte para o Evento autêntico. (Recordemos, por exemplo, que Bane não é apenas um terrorista brutal, mas sim uma pessoa de profundo amor e sacrifício.) Em suma, a ideologia pura não é possível, a autenticidade de Bane TEM de deixar rastros na tecitura do filme. É por isso que o filme merece uma leitura mais íntima: o Evento – a “república do povo de Gotham City”, a ditadura do proletariado sobre Manhattan – é imanente ao filme, é o seu centro ausente.

[1] Tyler O’Neil, “Dark Knight and Occupy Wall Street: The Humble Rise”,Hillsdale Natural Law Review, 21 de  julho de 2012.
[2] Karthick RM, “The Dark Knight Rises a ‘Fascist’?”Society and Culture, 21 de julho de 2012.
[3] Tyler O’Neil, cit.
[4] Christopher Nolan, entrevista na Entertainment 1216 (julho de 2012), p. 34.
[5] Entrevista de Christopher e Jonathan Nolan ao Buzzine Film.
[6] Karthick, cit.
[7] Forrest Whitman, “The Dickensian Aspects of The Dark Knight Rises”, 21 de julho de 2012.
[8] Karthick, cit.
[9] Citado em Jon Lee Anderton, Che Guevara: A Revolutionary Life, New York: Grove 1997, p. 636-637.
[10] Notemos a ironia do fato de que o filho de Neeson é um xiita devoto, e que o próprio Neeson às vezes fala sobre a sua futura conversão ao islamismo.

terça-feira, 31 de julho de 2012

“Cronicamente Inviável ” de Sergio Bianchi


Um Brasil caótico e hipócrita é o retrato pintado por Sérgio Bianchi em “Cronicamente inviável”. Um Brasil nojento em que ninguém se salva de sua culpa, onde as relações de opressor e oprimido estão expostas a toda prova tendo como ponto de interseção o restaurante de Luiz (Cecil Thiré).

Seis personagens centralizam o filme. Luiz é um homem refinado que acredita na civilidade e nas boas maneiras como forma de se resolverem os problemas. Amanda (Dira Paes) é a gerente de seu restaurante, uma mulher de origem pobre que incorpora a ética e os costumes burgueses. Adam (Dan Stulbach) é um sulista descendente de poloneses que vai trabalhar como garçom no restaurante. Maria Alice (Betty Goffman) é uma mulher de classe média alta que se compadece com as injustiças sociais. Seu marido Carlos (Daniel Dantas) é um economista que acredita na racionalidade e no pragmatismo do capitalismo. Por fim, Alfredo (Umberto Magnani) é um pesquisador que viaja pelo Brasil procurando compreender e refletir as relações de dominação e opressão.

O que mais gostaria de chamar a atenção com relação ao filme são as reflexões em off dos personagens recheado de diversas frases e idéias mais facilmente encontradas em livros do que ditas em cinema. “A felicidade é uma perfeita forma de dominação autoritária” reflete Alfredo ao analisar o torpor da população baiana que, mesmo se submetendo à intensa exploração de sua força de trabalho, comandada por uma burguesia que combina o velho coronelismo com a neotecnocracia, é “dominada” por uma boa caixa de som que toque o hit do momento. Contudo, essa indústria cultural será seccionada por classe. Existe a micareta com o trio elétrico, desfrutado por turistas estrangeiros e pela juventude abastada do Sudeste e a “pipoca”, lugar em que milhares de festeiros se espremem e se acotovelam com o intuito de também “curtir” o som e ainda apanham da Polícia e dos seguranças contratados para protegerem a propriedade territorial privada.
Outra reflexão do personagem Alfredo: “O que é mais importante explicar a realidade ou convencer? A ausência de civilização pode ser boa. Se não há civilização, há barbárie. A lógica indutiva me assusta porque ela acaba com a indignação”. Nesse momento, um índio é espancado por dois policiais porque apesar de estar tranqüilamente aproveitando o sol da Praia do Perequê, “logicamente” esse sujeito é um traficante ou um delinqüente.

Carlos representa a encarnação do pensamento da instauração da “saudável” desigualdade social de Hayek como forma de fazer com que os homens procurem ascender sua condição social. Ao repreender um desleixo da empregada doméstica, ele diz que “A lei do menor esforço é que mantém o mundo, deve-se manter as pessoas em permanente tensão”. Logo após, o diretor monta um take em que mostra que as relações sociais de exploração de trabalho entre a sua esposa e da empregada doméstica já se repetem por 3 gerações. Se Carlos tivesse que explicar, ele certamente diria que a empregada e seus entes sempre foram acomodados e relapsos.

Enquanto que Carlos segue praticando o trambique já que ele estaria “institucionalizado pela lei brasileira”, sua esposa pratica a caridade como forma de aliviar sua culpa pela situação de desigualdade econômica no país. Maria Alice contesta na aparência o neoliberalismo por abandonar a assistência à população e defende as ações de solidariedade em favor do alívio à pobreza e a iminente morte. Para ela, “se é (menores de rua) para morrerem por abandono, que morram entorpecidos de frágil felicidade”.

“Contradição social é uma mera questão de estilo de vida” conforme Luiz. Se não é possível resolvermos os problemas que latejam à nossa frente, porque não aproveitá-las para nosso favor? Quem sabe atraindo turistas para desfrutar das belezas naturais e da prostituição brasileira? Ou ainda montando e gerenciando um grupo musical de ex-menores de rua que tiveram sua “cidadania” resgatada ao se apresentarem em palcos do hemisfério norte?
Adam representa o caos no filme. Subverte a etiqueta do restaurante, questiona as ordens de sua chefe imediata, embriaga-se seguidamente e prega o terrorismo como forma de luta contra os patrões. Acaba despedido e preso pela polícia por incomodar o ex-patrão e incitar a violência.
Entendo que Sérgio Bianchi não procurou oferecer respostas prontas aos problemas levantados, mas a importância de um filme como “Cronicamente inviável” se dá em convidar o espectador à reflexão sobre até aonde contribuímos para a manutenção do status quo, mesmo que assumamos posturas críticas ou revolucionárias frente à situação que constatamos à nossa frente todos os dias. O filme critica o pensamento tipicamente pós-moderno de não conferir nenhum grau de teleologia e objetivos às suas reflexões, mas a uma mera constatação da realidade. Até porque assim é mais fácil obter financiamentos dos órgãos de fomento e da iniciativa privada (também para suas campanhas políticas).

Por fim, Bianchi expõe a usurpadora ética burguesa de educar e preconizar a honestidade como um dos pilares necessários para o funcionamento harmonioso da sociedade, ao mesmo tempo em que seus representantes utilizam o Estado para obter concessões, subsídios, renegociações/calote de dívidas, refinanciamentos. Uma mendiga recita, sinceramente, o salmo 23 do Novo Testamento a seu filho. “O Senhor é meu Pastor e nada me faltará” e explica que Deus nunca vai deixar que falte nada a ele. Apesar de serem pobres, acima de tudo devem ser honestos. Assim, o Brasil segue sendo uma “crônica inviável”.

Bruno Gawryszewski
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação pela UFRJ
e pesquisador do Grupo de Estudos em Trabalho, Educação Física
e Materialismo Histórico da UFJF)
(2006)
Fonte: http://www.telacritica.org

Quanto vale ou é por quilo?




Quanto vale ou é por quilo? 
 Direção: Sérgio Bianchi (2005) 

Por Marta Kanashiro "O que vale é ter liberdade para consumir, essa é a verdadeira funcionalidade da democracia". 
Proferida pelo ator Lázaro Ramos – em "Quanto vale ou é por quilo?", filme de Sérgio Bianchi – a frase traz uma entre as muitas questões apresentadas pelo cineasta paranaense, que são fundamentais para aqueles que desejam refletir mais seriamente sobre desigualdade, direitos e capitalismo na atualidade. 
Assim como em "Cronicamente inviável", Bianchi apresenta a realidade de forma tão crua e chocante que novamente a crítica o tem rotulado como niilista ou catastrofista, rótulos que tanto limitam a visão de realidades de fato existentes, quanto revelam o desejo de continuar mantendo-as recalcadas. Bianchi parece nos dizer que é impossível ficar diante ou atento a essa realidade de disparidades sem o choque ou o constrangimento, e que talvez essas sensações sejam de alguma forma produtivas para tirar algumas pessoas de um mundo mágico, recheado de slogans em prol da solidariedade e da responsabilidade social. 
 Livre adaptação do conto "Pai contra mãe" , de Machado de Assis, o filme traz à tona a permanência na atualidade de nosso passado escravista, deixando clara a impossibilidade de olhar o presente sem levar esse passado em conta, assim como as persistentes desigualdades econômicas, sociais e de direitos no país. Na medida em que o conto machadiano é adaptado para a atualidade – nas figuras de Candinho, Clara, tia Mônica e Arminda – Bianchi mostra o elo imprescindível com a História para uma visão crítica da atualidade. No entanto, para aqueles que ainda não leram o conto de Machado de Assis, o elo fica realmente claro quando Bianchi utiliza como recurso os paralelos com as crônicas de Nireu Cavalcanti, do final do século XVIII, extraídas do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro. 
Os cortes entre a adaptação do conto e esses documentos do Arquivo Nacional produzem quase que choques sucessivos no espectador, na medida em que igualam a violência, a noção de que pessoas podiam ser propriedade de outras, ou a lógica do lucro do sistema de escravidão no Brasil, ao que hoje é produzido com relação aos excluídos e marginalizados em nossa sociedade. Mas se por um lado o filme afirma que há reminiscências que nos são constitutivas, também abarca sua incorporação e complexificação nos dias atuais: a miséria ou a prisão como economicamente rentáveis e geradoras de emprego, a solidariedade como empresa ou até mesmo a denúncia como um negócio. 
No atual jogo "democrático" e de "participação" da sociedade civil em prol de demandas não atendidas pelo Estado, as ongs - ou o terceiro setor, como se convencionou chamar - aparecem no filme funcionando como empresa, incorporando seu discurso típico e objetivando, enfim, o lucro. Responsabilidade social ou solidariedade são exaltadas e mobilizadas como marketing dessa nova indústria que gerencia a miséria e os miseráveis. A crítica ácida de Bianchi recai, portanto, sobre aquilo que muitos têm entendido como solução ou alternativa para os dilemas inerentes ao capitalismo – as ONGs. 
Sem freios, tal acidez pode voltar-se inclusive sobre o próprio filme que, no limite, ao tematizar o uso econômico da miséria, faz da denúncia seu negócio. Mas essa possível autofagia encontra como limite o choque do espectador, a proposta de retirá-lo daquele mundo mágico, da inércia confortante dos que criticam e apresentam uma nova proposta ou solução ao final. 
Sem solução, sem proposta, Bianchi termina o filme com dois finais possíveis, dando a entender que mesmo que não sejam apenas aquelas as opções, é o espectador que dará novos desfechos para a nossa História. Ao final da sessão, na sala 4 do Espaço Unibanco, na capital paulista, a platéia parecia não conseguir se erguer das poltronas, o silêncio era fúnebre, de fato alguém tinha retirado o nosso chão. Precisávamos reconstruí-lo para poder nos erguer. 
Uma dupla de senhoras tentou resolver a questão da forma mais fácil dizendo: "O filme é pura promoção do conflito". Pois é, ficou tudo tão evidente que para alguns é preferível imaginar que o conflito ainda não está posto no cotidiano brasileiro.
Fonte: http://www.comciencia.br

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Reflexões sobre o documentário “Muito Além do Cidadão Kane”

Reflexões sobre o documentário “Muito Além do Cidadão Kane”...


Olá pessoal ...

Esta postagem busca relembrar um documentário muito famoso da década de 1990, intitulado “Muito Além do Cidadão Kane”.
Como mencionado abaixo pela sinopse, este documentário foi proibido no Brasil, pois expõem as relações “duvidosas” que a Rede Globo e seu presidente até então – Roberto Marinho – tinham com entidades da sociedade civil e com o próprio governo e também torna evidente algumas artimanhas misteriosas de outras emissoras brasileiras. Os principais assuntos apresentados são: os cortes e manipulações efetuados na edição do último debate entre Luiz Inácio da Silva e Fernando Collor de Mello, que influenciaram a eleição de 1989; apoio a ditadura militar e censura a artistas, como Chico Buarque que por anos foi proibido de ter seu nome divulgado na emissora; criação de mitos culturalmente questionáveis, veiculação de notícias frívolas e alienação humana. O documentário também apresenta depoimentos de Leonel Brizola, Chico Buarque, Washington Olivetto, entre outros jornalistas, historiadores e estudiosos da sociedade brasileira.
Ter consciência dos fatos apresentados nos faz ver a indústria midiática brasileira com outros olhos e nos faz perceber que estamos cercados por meia dúzia de famílias que controlam diariamente o que vemos, ouvimos e pensamos. Isso será fundamental para o desenvolvimento de uma consciência critica perante os bombardeios de informações que recebemos diariamente.
Não penso que teremos um dia uma mídia imparcial. Afinal, o que é imparcialidade? É ela possível? Somos seres pensantes e, portanto, parciais. No entanto, precisamos estar atentos as intenções e as más-intenções que são advindas dos meios de comunicação e que, em muitas vezes, aceitamos de modo passivo. Precisamos ter em mente que a burguesia para se manter no poder, enquanto classe, precisa reproduzir seus valores, anseios, desejos e interesses, que são antagônicos daqueles que são integrantes das classes exploradas, a fim de naturalizá-los e torná-los universais; mas para isso, há a necessidade de  reproduzi-los em larga escala. Utilizando-se de vários meios para reproduzir seus valores, a burguesia também utiliza da mídia. Como Marx já afirmava no século XIX tudo é mercadoria. No capitalismo, a mercadoria é fundamental para a manutenção dos privilégios burgueses. Assim, eles transformam a informação em uma mercadoria, para continuarem reproduzindo sua posição dominante.
Assim, de um lado, os valores da burguesia serão reproduzidos por meio da (des)informação quando se criam formas de possibilitar a sua mercantilização, ou seja, quando se transfere os meios de comunicação em massa para a esfera do consumo. E com este consumo, os indivíduos consomem também os valores burgueses. E de outro, a burguesia aumentando o consumo da (des)informação, aumenta seu lucro, que é obtido na venda dessas mercadorias, naturalmente, isso aumenta seu poder material e, portanto, seus privilégios.
O documentário a seguir é de grande contribuição para as reflexões mencionadas anteriormente. E pode contribuir para sermos ainda mais seletivos quanto ao que vemos e ouvimos.
Abaixo estão as principais informações sobre o documentário em questão. Vale ressaltar que, ao baixar as 4 partes (foi dividido para facilitar o download), você terá o documentário sem cortes e sem edição – um arquivo raro e ainda mais completo.
Vejam e reflitam...


MUITO ALÉM DO CIDADÃO KANE

FICHA TÉCNICA

Título original: Beyond Citizen Kane.
Lançamento: 1993 (BRA).
Direção: Simon Hartog.
Duração: 93 min.
Gênero: Documentário.
Sinopse: É um documentário produzido pela BBC de Londres - proibido no Brasil desde a estréia, em 1993, por decisão judicial - que trata das relações sombrias da Rede Globo de Televisão (Roberto Marinho) e das demais emissoras de TV aberta do Brasil com o cenário político brasileiro.

DOCUMENTÁRIO (PARTE 01)*:
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DOCUMENTÁRIO (PARTE 02)*:
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DOCUMENTÁRIO (PARTE 03)*:
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DOCUMENTÁRIO (PARTE 04)*:
 Download Aqui
 

Utopia e Barbárie - Filme Completo


Documentário; Direção: Silvio Tendler, 2009 Brasil; 
Idioma do Áudio: Português, Inglês, Espanhol, Francês, Italiano.
"Utopia e Barbárie" é filme histórico que percorreu ao todo 15 países: França, Itália, Espanha, Canadá, EUA, Cuba, Vietnã, Israel, Palestina, Argentina, Chile, México, Uruguai, Venezuela e Brasil. Em cada um desses lugares, Tendler documentou os protagonistas e testemunhas da história do século XX. Nas telas, o documentário transita por alguns dos episódios mais polêmicos da história mundial recente, como as bombas de Hiroshima e Nagasaki, o Holocausto, a Revolução de Outubro, o ano de 1968 no mundo (Brasil, França, Chile, Argentina, Uruguai, dentre outros), a Operação Condor, a queda do Muro de Berlim e a explosão do liberalismo mais canibal que a História já conheceu.



Crítica: 
Por Sergio Batisteli
Após 19 anos, a geração bastarda que sonhava com glórias e liberdade chega às telas. A partir da visão marxista, ou seja, um vasto conceito filosófico, que se baseia profundamente na ideia do homem como um ser social histórico, que possui a habilidade de trabalhar e desenvolver a produtividade do trabalho. Assim, o homem tem a possibilidade de progredir e ampliar suas potencialidades humanas.

“Utopia e Barbárie” é o encontro do diretor Silvio Tendler consigo mesmo, após filmar o excelente longa-metragem “Encontro com Milton Santos”, de 2007. Tendler nos apresenta a história, pelo seu ponto de vista, dos últimos 50 anos do século XX. Contextualiza as guerras, as revoluções, suas utopias e as barbáries.

O documentário traz uma linguagem fílmica que não estamos acostumados a ver no cinema comercial, como a distorção de som e imagens. Recurso que ajuda o espectador a captar a sensação de estar vendo uma forma diferente à história recente da humanidade. Nessas quase duas décadas “Utopia e Barbárie” passou por 15 países, dentre eles França, Cuba, Brasil, Vietnã e EUA. O filme é narrado em primeira pessoa nas vozes de Chico Diaz, Letícia Spiller e Amir Haddad. Os entrevistados são influentes personagens (militares, dramaturgos, jornalistas, políticos, escritores, sobreviventes de guerra etc.) Um importante detalhe não foi deixado de lado no documentário, que é a repetição dos caracteres dos nomes dos entrevistados. Afinal, com os depoimentos com mais de 50 pessoas, fica difícil de lembrarmos os nomes de todos eles.

Silvio Tendler utiliza vários trechos de filmes para ilustrar diversas revoluções, por exemplo, “Roma Cidade Aberta” de Roberto Rossellini; “Campesinos”, de Marta Rodriguez e Jorge Silva, documentário que trata da forma de como os grandes proprietários de terra impõem a sua cultura e os conflitos em ocupações de terras, sobre os índios e camponeses; “Camilo Torres”, de Bruno Muel e J.P. Sergent, sobre o padre católico e guerrilheiro colombiano; “The Black Panther Newsreel”, que trata de registros históricos com entrevistas, audiências públicas e depoimentos de integrantes do grupo revolucionário Panteras Negras; “A Batalha de Argel”, narra a luta pela independência da Argélia, que põe em combate o exército francês e a Frente de Libertação, dirigido por Gillo Pontecorvo.
Talvez o mais impactante, por ser um trecho longo usado no documentário, “Setembro Chileno” conta a tomada do poder pelo general Pinochet. Obra de Bruno Muel, diretor, fotógrafo e jornalista. Tais filmes foram escolhidos a dedo, para representar através de outras obras cinematográficas os ideais, sentimentos e pensamentos de uma geração. O longa-metragem mostra que a utopia existe e paga-se um preço muito caro por isso.

Silvio Tendler conta a relação direta dos EUA com as ditaduras sul-americanas. Registros em áudio nos são apresentados com as vozes dos principais políticos, que na época defendiam a ditadura militar no Brasil e que ainda influenciam a opinião pública.

Nos anos 2000, Tendler exibe incríveis personagens em viagens feitas ao Oriente. Segundo o documentário, vivemos atualmente numa distopia, isto é, o pensamento, a filosofia ou o processo discursivo está baseado numa ficção, no qual o valor representa a antítese da utopia, que tem como significado mais comum a ideia de civilização ideal, imaginária, fantástica para se formar uma nova ideologia que não aceita o imperialismo.

“Utopia e Barbárie” é uma aula de história e segue como indicação para professores que se preocupam em ensinar fora da classe, preocupados em mostrar outras formas de conhecimento. Essa obra é o que se costuma chamar dentro do jornalismo de “grande reportagem”, que pode ser encontrada em revistas como Brasileiros, Caros Amigos, Piauí etc.

Leia mais no site http://sergiohpg.blig.ig.com.br

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Documentário usa imagens gravadas pelo celular de cortadores de cana



Em outubro de 2011, cerca de 400 trabalhadores interromperam, por seis dias, o corte da cana na usina Bela Vista, interior do Estado de São Paulo. O protesto ocorreu em virtude das condições a que estavam submetidos. Os sindicalistas e os procuradores do trabalho foram convocados para intermediar as demandas dos trabalhadores. Irredutíveis, queriam ser demitidos. Em uma conjuntura em que se luta pelo emprego, esses trabalhadores reivindicavam a interrupção do contrato de trabalho.
Essa (apenas aparente) contradição é tratada pelo documentário “Conflito”, dirigido por Beto Novaes e lançado recentemente, que utiliza imagens gravadas pelos celulares dos próprios trabalhadores, além do material captado por sua equipe.
Novaes, que é professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, possui em seu currículo filmes como “Quadra Fechada” e “Migrantes”, que revelam a dura realidade daqueles que tornam possível o “milagre” brasileiro do etanol, vendido como um combustível “limpo”, mas que segue registrando casos de superexploração de trabalhadores ou de trabalho análogo ao de escravo.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Crianças de consumo


"Crianças de consumo, a comercialização da Infância", mostra como as grandes corporações utilizam-se da infância para gerar lucros gigantescos, vendendo todo o tipo de produtos, muitas vezes, de forma desonesta, desumana e pouco ética, tornando-as vulneráveis na idade mais delicada de suas vidas.

Cada vez mais os brinquedos representam personagens de TV, reduzindo o poder de imaginação, deixando as crianças menos criativas. Cada vez mais substitui-se a brincadeira de rua pela tela de TV ou computador. Com isso as crianças estão tornando-se mais obesas e menos atentas. O número de casos de disfunção bipolar infantil é 4 vezes maior que há 30 anos atrás, sem falar em outras doenças crescendo assustadoramente nessa faixa etária como diabetes, depressão, hipertensão

Os comerciais de Fast-food, brinquedos, roupas, até mesmo automóveis para os pais são feitos utilizando-se de profissionais como psicólogos e antropólogos, desviando a ciência para uma única direção: o lucro.

"Estamos criando uma geração de super consumidores" (Sinopse copiada do original do blog "docverdade"

Créditos:
Responsáveis pelo excelente documentário:
http://www.mediaed.org
___
Legendas: http://docverdade.blogspot.com
Revisão e correções: Amhiro/ECOmantiqueira

terça-feira, 5 de junho de 2012

CRIANÇA, A ALMA DO NEGÓCIO


Este documentário está divido em 6 partes, esta é a 1ª. Assista todas elas, com troca automática ao final de cada parte. Clique somente uma vez aqui:

Um documentário sobre publicidade, consumo e infância.
(Este documentário está divido em 6 partes, esta é a 1ª. As partes seguintes estão ao final deste texto.)
Produtora: Maria Farinha Produções
Direção: Estela Renner
Produção Executiva: Marcos Nisti

Sinopse: "Por que meu filho sempre me pede um brinquedo novo? Por que minha filha quer mais uma boneca se ela já tem uma caixa cheia de bonecas? Por que meu filho acha que precisa de mais um tênis? Por que eu comprei maquiagem para minha filha se ela só tem cinco anos? Por que meu filho sofre tanto se ele não tem o último modelo de um celular? Por que eu não consigo dizer não? Ele pede, eu compro e mesmo assim meu filho sempre quer mais. De onde vem este desejo constante de consumo?" Este documentário reflete sobre estas questões e mostra como no Brasil a criança se tornou a alma do negócio para a publicidade. A indústria descobriu que é mais fácil convencer uma criança do que um adulto, então, as crianças são bombardeadas por propagandas que estimulam o consumo e que falam diretamente com elas. O resultado disso é devastador: crianças que, aos cinco anos, já vão à escola totalmente maquiadas e deixaram de brincar de correr por causa de seus saltos altos; que sabem as marcas de todos os celulares mas não sabem o que é uma minhoca; que reconhecem as marcas de todos os salgadinhos mas não sabem os nomes de frutas e legumes. Num jogo desigual e desumano, os anunciantes ficam com o lucro enquanto as crianças arcam com o prejuízo de sua infância encurtada. Contundente, ousado e real, este documentário escancara a perplexidade deste cenário, convidando você a refletir sobre seu papel dentro dele e sobre o futuro da infância.
Instituto Alana: http://www.alana.org.br/
Vídeos do 2° Fórum Internacional Criança e Consumo realizado em 2008:http://www.forumcec.org.br/
Baixe este documentário em alta qualidade de imagem:
Codec necessário para assistí-lo:
Ou um aparelho de DVD compatível com DivX / XviD.
Não guarde só para você, divulgue.

Este documentário está dividido em 6 partes no YouTube:
PARTE 1:
PARTE 2
PARTE 3
PARTE 4
PARTE 5
CRÉDITOS