Em julho de 2001, a cidade Italiana de Genova, hospedou a reuniao do G8. O recém eleito governo de direita de Sivlio Berlusconi havia chegado ao poder algumas semanas antes do encontro. Eles decidiram que iriam montar uma frente de ataque contra qualquer tipo de protesto "violento".
Atiradores de projeteis foram colocados ao longo do litoral e das docas. Helicópteros, equipes de apoio e 20.000 policiais foram destacados para a operação. 200 sacos para corpos foram requisitados.
O resultado foi a cena mais violenta vista em um encontro do G8. A polícia italiana foi duramente criticada internacionalmente, pelas brutais táticas utilizadas, que deixaram centenas de manifestantes feridos e um manifestante, Carlos Giuliani, morto.
Após a morte de Giuliani, uma política de "atirar pra matar" foi estimulada dentro da "zona vermelha", área vazia ao redor da Av. Palazzo Ducal, avenida do local do encontro. Há também registros de balas sendo disparada contra manifestantes por policiais fora da zona vermelha.
Agora, 4 anos depois, o jugalmento contra 5 médicos que participaram da equipe de apoio e 45 policiais começou, incluindo um dos policiais mais antigos da Itália.
Os policiais são acusados de uso excessivo de forca, prisão e detenção ilegal, conspiração e de plantar evidencias. A equipe médica é acusada de negligenciar e de ser cúmplice de espancamentos e torturas de manifestantes, na noite que foi denominada "a noite chilena de Genova".
Seis testemunhas britânicas, incluindo um jornalista da BBC, Bill Hayton, e um Neo zelandês, foram ao tribunal na quarta-feira, dia 11 de janeiro, para recontar suas experiências na noite do dia 21 de julho de 2001. A meia noite do dia em questão, a polícia fez uma batida na Escola Diaz, e executou o mais violento ataque na última noite do encontro.
O complexo escolar Diaz é composto de dois prédios, um de frente para o outro, ao longo da rua Battisti. A escola estava sendo usada pelos advogados do Fórum Social de Gênova. Rádios independentes estavam transmitindo de lá e um Centro de Mídia Independente havia sido montando no terceiro andar do prédio. A escola também estava sendo usada como dormitório pelos manifestantes durantes os 3 dias do encontro, era considerado um lugar "seguro".
Os testemunhos no tribunal genovês foram apoiados em novas evidências em vídeo, feitas por Hamish Campbell, primeira vez que o vídeo havia sido trazido a público.
Campbell disse que metades das pessoas que estavam nos dormitórios haviam deixado a escola, após ouvirem rumores de uma batida policial: "Houve gritos de 'a polícia está aqui'. Todos entraram em pânico", disse Campbell.
Campbell e um colega alemão foram até o telhado do prédio. Eles esconderam todos os vídeos dos protestos, para impedir que a policia italiana os apreendesse. Após isso Campbell começou a filmar o que estava acontecendo nos primeiros andares.
"Eu estava preocupado com a minha segurança, eu estava sozinho no telhado", relembra Campbell. "A polícia podia estar dentro do prédio, podiam aparecer no telhado a qualquer instante. Se eles me encontrassem destruiriam minha câmera e Deus sabe o que fariam comigo".
O video mostra a batida policial na escola com 200 policiais. Os portões foram arrombados por uma van policial, os policiais quebraram a barreira que havia sido feita na porta principal do prédio, que testemunhas disseram ser uma tentativa dos manifestantes de se defenderam do ataque iminente da polícia.
A revelação mais chocante do vídeo mostra o jornalista independente, Mark Coveel, no chão com marcas de espancamento, deitado numa poça do próprio sangue. Ele foi um dos primeiros a ser atacado, pois estava do lado de fora do prédio quando os policiais chegaram.
A polícia continuou espancando-o, foram 3 vezes por diferentes policiais, que utilizavam equipamentos como cacetes e escudos. O ultimo golpe na sua cabeça o deixou inconsciente por 14 horas.
"Eu gritava, sou jornalista", disse Covell de Londres. "O policial que estava me batendo disse em inglês pra mim 'voce não é jornalista, você é Black Block. Nós vamos matar todos do Black Block'. Nesse momento eu tinha certeza que iria morrer".
Covell teve 8 costelas quebras, um pulmão danificado, uma mão quebrada, a espinha danificada e teve 10 dentes quebrados.
"Eu fui jogado na rua e usado como bola de futebol", declarou Covell. "Depois disso uma van policial arrebentou os portões. A policia entrou no prédio. Depois disso eu ouvi vários gritos vindo de dentro do prédio [Dias Pertini]."
Durante a batida, 93 manifestantes de vários paises (Inglaterra, Alemanha, Espanha e Itália) foram presos. 62 tiveram machucados sérios que precisaram ser hospitalizados, incluindo 6 pessoas que foram internadas imediatamente na UTI.
O neozeolandês, Sam Buchanan, estava dentro da escola quando a polícia entrou no prédo: "Eu me lembro de ter tido uma longa discussão de onde era o lugar mais seguro para se dormir em Gênova", relembra Buchana. "Nós decidimos que provavelmente era mais seguro ficar na escola".
"Duas horas depois nós ouvimos gritos, olhamos pela janela e vimos cerca de 60 policiais de capacetes e roupas especiais, passando pelos portões da escola. Naquele momento nos rapidamente nos vestimos, pegamos nossos passaportes e os escondemos debaixo de uma mesa".
Após ouvirem os gritos dos manifestantes sendo espancados, a policia entrou na sala onde Buchanan e seus amigos estavam.
"Três policiais vieram até mim", disse Buchanan. "Eu deitei no chão tentando me proteger com uma cadeira. E finalmente eu decidi que isso era uma perda de tempo. Eu iria acabar apanhando de qualquer jeito e decidi acabar logo com isso".
Buchanan foi golpeado repetida vezes no lado esquerdo do seu corpo, e levou três golpes na cabeça de três policiais diferentes.
"Eu então fui levado para baixo, e vi o resto de todos que estavam no prédio. Alguns deles em um estado muito pior que o meu. Eu sai relativamente bem se comparando com os outros. Alguns estavam inconsciente, havia pessoas sangrando. Foi uma cena estarrecedora".
Buchanan, junto com outras 30 pessoas, foi preso e levado diretamente pra prisão Bolzaneto, a cerca de 10 km de Genova. Outros 40 manifestantes foram levados ao hospital San Martino. Nas 24 que sucederam o ataque a escola Diaz, as vítimas foram novamente atacadas em suas camas pela polícia no hospital, e depois levadas a prisão Bolzaneto. Lá as vítimas eram novamente espancadas, além dos policiais jogarem urina nelas. As mulheres eram molestadas, e forçadas a cantar canções fascistas junto com os policiais.
Na prisão Bolzaneto, Buchanan foi revistado, golpeado nos rins e na cabeça e foi colocado em uma cela de concreto por 30 horas.
"Nós passamos as primeiras duas horas espremidos contra a parede e sendo chutado caso nos movêssemos," recorda Buchanan."A pior coisa foi não ter a menor idéia de onde estávamos e do que estava acontecendo. Nos não haviamos sido legalmente acusados de nada. Simplesmente haviamos desaparecido".
Foram mantidos sob custódia da polícia por 5 dias, em Balzaneto e outras prisões ao redor de Gênova, sem qualquer tipo de acusão legal. Foram repetidas vezes espancados e foi negado qualquer contato e comunicação entre as vítimas e seus representantes legais e famílias. Após esse período as vítimas receberam sua primeira visita legal".
"Nós fomos apresentados a uma advogada", disse Buchanan. Ela disse que não havia acusação legal, e que nós podiamos ir, que as prisões eram ilegais".
Após terem sido libertadas, todas as vítimas e testemunhas foram deportadas sob ordem judicial, emitida por um representante do Ministro do Interior, Di Giovine.
"Um relatório de polícia diz que antes da batida, os escritórios policiais foram atacados com "com objetos de todos os tipos", incluindo "pedras e pedaços de vidros". Isto os levou a crer que os manifestantes tinham "todo tipo de arma".
O vídeo da batida policial desmente isso. A promotoria afirma que a polícia mentiu para justificar a batida. A polícia argumenta que o vídeo não mostra todos os cômodos da escola.
A lista com o nome dos policiais indiciados na batida da escola Diaz, é uma lista de corrupção inacreditável, abuso de poder e violação de direitos humanos. Desde prisões ilegais e evidencias falsas até abuso de poder para plantar provas e para abuso de força.
Entre os indiciados encontra-se o Chefe da Digos (esquadrão de inteligência) Spartaco Mortola, Francesco Gratteri e Gilberto Caldarozzi, Delegado chefe do esquadrão anti-terrorismo Giovanni Luperi, e o chefes do esquadrão de choque Vincenzo Canterini e Michaelangelo Fournier.
O julgamento continua pelo mês de Janeiro com o restante das vítimas e testemunhas britãnicas que irão depôr a partir do dia 19. Mark Covell irá testemunhar no dia 27 de janeiro.
44 vítimas do massacre da escola Diaz, da Alemanha e Holanda, irão chegar em Gênova nas próximas semanas, junto com as outras testemunhas britânicas e com representantes do Indymedia.
Este caso não está de maneira alguma terminado. Mais de 600 testemunhas irão depôr antes do julgamento acabar. Este é o maior caso de violência policial e violação de direitos humanos pela polícia italiana desde a Segunda Guerra Mundial, e está sendo levado diretamente pra dentro da próxima eleição italiana que está marcada para Abril.
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